para Lucas e Stella
escrito por: Luís Matheus
Me mudei da rua C3 para a rua Amintas Machado de Jesus,
tal qual uma amiga se mudou da rua José Maria Filho de Jesus
para a travessa Alexandre Réis, tal qual um amigo se mudou da rua
Icaraí para a rua Cônego João de Deus.
Não importam os números, não importam as cidades,
não importam as extensões, nem sequer os nomes das ruas,
ainda que eles nos vinculem a um dogma,
ainda que toda a negação leve a um sim.
Aí está um ato contra a privacidade: revelação de topônimos.
Por exemplo, Sergipe provém de uma denominação aborígene
dada a um riacho, cuja nascente está no interior,
descobriu Daniel Parish Kidder quando veio ao estado,
uma posição da qual não posso me desvincular.
Daniel Parish Kidder, missionário metodista estadunidense,
disse: povo patriota e ordeiro a respeito de quem mora no estado
com nome aborígene. Daniel Parish Kidder fez, sem hesitar,
proselitismo para um povo patriota e ordeiro.
Daniel Parish Kidder incluiu o relato
a respeito do povo patriota e ordeiro no livro Reminiscências de
viagens…, cujo título é longo demais para os versos deste poema.
Entretanto,
há espaço para citar um ato contra a privacidade:
exposição de todos os itens de uma casa durante uma mudança.
Me vinculo, sem hesitar, às ruas para as quais me mudo
em intervalos de nove anos. Para a casa da rua Amintas Machado de
Jesus, eu tenho, até agora, um contrato de um ano. Sem registro em
cartório.
A Amintas Machado de Jesus,
ela possui mais de quinhentos metros, logo não posso constatar
se o povo é patriota e ordeiro, exceto que os galos cantam
antes das três da manhã. Os galos, eles contrariam o povo
patriota e ordeiro. A C3, por sua vez, ela é a rua dos sete viados.
Eu não era um deles e sou.

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