Van Gogh era filho de um pastor protestante de uma pequena cidade holandessa. Seu pai pertencia a uma ala que via com severa suspeita a arte em geral, por ser uma fonte de gozo, de prazer mundano. Ele tentou seguir a tradição familiar, mas seus antecedentes não foram do agrado dos teólogos que o examinaram na Universidade de Amsterdam.
Como era um homem radicalmente teimoso, pediu permisso às autoridades pastorais da sua igreja, para ir como missionário a uma pequena vila de mineiros, na Bélgica. Ali, por ser teimosamente radical, doou seu apartamento ‘oficial’ para um sem-teto e foi morar nas barracas com os trabalhadores da mina. Essa ação foi considerada subversiva pela diretoria da igreja e Van Gogh foi demitido.
Fechadas as portas da religião institucional, passou a procurar a Deus na pintura.

Mas esse deus já não era tão severo e austero quanto o do seu pai, o deus de Vincent Van Gogh estava em, ou era, a Natureza.
Um ano antes da sua morte, pintou Noite Estrelada. Estava internado como consequência de uma doença mental e um histórico de alucinações e suicídio. No hospital, St. Paul, nos seus bons momentos, gozava de certos privilégios: transladava-se com maior liberdade que os outros, lia, principalmente, pintava.
Vang Gogh sempre copiava suas paisagens do real, eram amostras da Natureza. Noite Estrelada, ao contrário, é um produto da sua imaginação. A paisagem que se vê no quadro não existe nos arredores do hospital.
O quadro epresenta um ambiente que vai do sagrado ao natural; do misterioso ao assimilável. Podemos dividi-lo em três partes: o céu, representando o divino, a parte onírica, irreal, que se encontra além da compreensão humana; descendo pelo cipreste, chegamos as colinas e as a outras árvores, ainda desenhadas com ângulos suaves, como o céu, formando com este o grande conjunto da Natureza; e, por fim, a vila, com suas linhas retas, seus ângulos agudos, separada do celestial, completamente humana, compreensível, ‘objetiva’.
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