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Pintar para o inimigo

Foto do escritor: Fabian PiñeyroFabian Piñeyro

Atualizado: 7 de jul. de 2021

Mark Rothko não tinha nenhuma esperança na classe dirigente burguesa. Viu as duas grandes guerras mundiais, viu o nazismo... Acreditava, contudo, no poder transformador da arte, na arte como arma para a luta política. Arte que, por sua parte, iria ficando cada vez mais abstrata até transformar-se no puro drama das cores.


O quadro anterior, “Centro Branco: Amarelo, Rosado e Lavanda em Rosa”, foi vendido em 2016 por mais de 200 milhões de reais. Foi pintado na década de 1950, quando Rothko se somou à lista de artistas americanos de renome internacional, os principais museus passaram a disputar-se suas obras e os colecionadores a sentir a necessidade de possuir um Rothko.

Em 1959, a empresa Seagrams, dona de um prédio em Manhattan, desenhado por Rohe van der Mies, ofereceu a Rothko o que seriam 20 milhões de reais de hoje para pintar dois murais no restaurante Four Seasons, que funcionava no térreo do edifício e era o preferido por nove de cada dez membros da nata de Nova Iorque.

Rothko passou meses trabalhando, perseguido pela ideia de estar pintando uma obra para usufruto exclusivo dessa classe que ele tanto detestava. Lembrava de uma escada da biblioteca de Florença, onde sentiu o peso de se sentir preso, e queria transmitir essa mesma sensação aos comensais do Four Seasons, queria que “esses filhos da puta” passassem mal enquanto comiam. Pintou então telas em tons bem escuros: vermelho sobre marrom, preto sobre marrom, derramou litros de desesperança em apagadas cores.

Mural Seagrams. Fonte: Pinterest


Contudo, antes de entregar o quadro, foi com sua mulher almoçar no Four Seasons e sentiu que pessoas dispostas a pagar tanto dinheiro por um prato de comida seriam incapazes de entender sua obra. E devolveu a parte de dinheiro adiantada e ficou com os quadros.

Dez anos depois, pouco antes de se suicidar, doaria as obras ao museu Tate, de Londres.

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