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O perigo das delícias terrenais

Foto do escritor: Fabian PiñeyroFabian Piñeyro

Dentro de uma esfera transparente, vemos um homem e uma mulher nus. Á direita desse casal encapsulado, uma mulher afundada na água de ponta cabeça, com as pernas abertas, mantém sobre sua vagina um ovo vermelho do qual sai uma ave adulta. Por cima da bola transparente e da mulher pés para o ar, passa voando um pato de maior tamanho que os humanos; embaixo, algo como um abacaxi liso, onde mora um homem que olha pela janela e se encontra com um rato que avança na sua direção.

As folhas do abacaxi dão origem a uma flor que se abre em direção aos amantes que estão dentro da bolha. Tudo parece fechar com a lógica dos sonhos... Mas não é um quadro surrealista. É um pequeno fragmento do tríptico o Jardim das Delícias Terrenais, finalizado em 1515, pelo pintor flamenco do Renascimento Hieronymus Bosch. Uma obra composta por três cenas que representam o momento em que Deus apresenta Eva a Adão, o gozo das delícias terrenais e o Inferno.


A primeira e a segunda parte compartilham a mesma luz e o mesmo horizonte. A Terra, apesar de todo o sofrimento que traz, lembra o Paraíso. A pessoas que vemos no quadro central, à beira o rio ou tomando banho na lagoa parecem viver despreocupadas, dedicadas exclusivamente ao gozo da brincadeira e do sexo.

Para o religioso Bosch isso significava que a humanidade nada tinha aprendido, após a expulsão do Paraíso e que, com essa vida desregrada, pecaminosa, os homens estavam no caminho que desembocava no inferno.

O inferno está representado na terceira parte, a mais escura. Vejamos um pouco dele, observando um outro fragmento: um insólito pássaro, sentado numa cadeira elevada, engole um humano. À esquerda, vemos uma banda de músicos que sofrem (poucas coisas mais deprimentes). Embaixo, um ser verde com braços que terminam em galhos acomoda o corpo, talvez morto, talvez pronto para ser jogado no buraco. à direita, que leva quem sabe onde...

Vale a pena observar de vez em quando este quadro para descobrir as viagens surreais de Hieronymus. Mas do que um tríptico é um filme.


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