Este não é um conto, com princípio, meio e fim, é um quadro de época. Fala de um tempo em que os vampiros neoliberais engordavam os trabalhadores do mundo com xarope de milho, para depois aproveitar essa energia corporal nas tarefas brutais ou monótonas que se imbricavam no sistema que os enriquecia. Como os vampiros nunca paravam de sugar, havia enorme demanda de esforço humano e de milho e, como consequência disso, os solos iam ficando secos como sapatos velhos porque as sementes super transgênero craneadas pelos karas envenenava velozmente as entranhas da terra.
Curuzu, que chegou a ser durante seis meses o principal produtor mundial do cereal, virou um deserto de sal da noite para o dia e a fome foi tão dolorosa que a sombra da extinção era a única esperança para a metade da população. Ante tão cavernosa situação, e diante dos boatos de revolta generalizada, um pequeno grupo de vermes eletivos envergonhados propusera responsabilizar pela miséria dos curuzuenses os laboratórios que fabricavam os super grãos.
Mas, antes de que se disparassem os conflitos, -os vampiros já se dispunham a atacar- acharam no subsolo desse Curuzu desesperado uma jazida de urânio 30, que era o componente principal das baterias universais. Desde os carros voadores que sulcavam os céus do país dos karas até os telefones espertos que a humanidade utilizava dia a dia e desde os marcapassos até os drones bombardeiros com que os vampiros policiavam o mundo, usavam urânio 30 como único componente.

Fonte: Flickr
A negociação do combustível com os enviados dos vampiros foi clássica. Eles ofereceram o preço justo de mercado dividido por 91,43 (que era um número cuja pertinência ninguém explicava) e os vermes eletivos sem vergonha, por uma propina gorda, aceitaram a falcatrua em nome do congresso da nação. Ao mesmo tempo, procedeu-se ao sistema expropriatório habitual: Os vermes votaram uma lei permitia pagar o urânio em (digamos) bnha de porco enquanto os caguetes jornalísticos convenciam seu público de que dar o combustível 'de graça' às sábias empresas dos karas era abrir as portas do mundo.
Os vermes envergonhados reclamariam mas, além pouco escutados, seriam severamente corrigidos pelo sistema punitivo dos vampiros que, nessa época, tinham poder para converter em verdade incluso teorias da terra plana. Seus caguetes jornalísticos, dessa vez, informaram que os vermes 'rebeldes' planejavam roubar o produto das jazidas para perpetuar-se no poder e o povo teve medo deles. Além disso, acusaram-nos também de serem heterossexuais, coisa que em Curuzu era o pior dos pecados: ir além das poucas relações procriadoras que o Estado permitia era ser um degenerado.

Foto: FreeIMG
Como já vinham as eleições, os caguetes jornalísticos receberam a ordem de elevar a figura do palhaço Plim Plim à categoria de estadista. Durante a campanha, entre um número de malabarismo e sketchs ingênuos, o candidato prometeu fazer das terras secas de Curuzu pistas para pouso e depósito de drones e promover o veganismo e o desprendimento budista entre a população. O palhaço ganhou com mais de 70% dos votos, graças ao fascínio que ocasionaram nos eleitores seus balões amarelos, e começaram a chegar os drones e os karas que cuidavam as máquinas e alguns curuzuenses montaram barraquinhas de capeta e música ao vivo, mas rapidamente viram que era um ciclo econômico de voo curto.
O bom, para os vampiros, foi que dessa vez não houve boatos de revolta, a população ageuntou em paz. Como quase todos eram veganos, era fácil para os caguetes convencer os internautas de que seus corpos raquíticos se deviam aos novos costumes sadios da nação. E como quase todos aderiam ao desprendimento budista, o povo terminava agradecendo os vampiros por retirar do subsolo da pátria o venenoso urânio 30.
Além disso, pipocavam nas redes o tempo inteiro notícias do processo dos vermes envergonhados que seriam condenados a prisão por corrupção e à ‘penetração anal pública com milho quente’ por heterossexualidade desmedida.
Viriam dias muito infelizes para todos.
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