No centro da obra tem um homem de costas que aponta para o mais elevado. Vemos nele uma certa grandeza, pois adota uma posição cômoda ante o abismo; mas também fraqueza; necessita de um cajado. Daqui surge mais de uma interpretação, já que tudo depende da maneira como definamos esse “mais elevado” e do significado que outorguemos ao “abismo” e ao “cajado”. Mas talvez existam poucas representações tão cruas do drama da solidão perante os mistérios da vida.
O quadro 'O viajante sobre o mar de névoa' foi pintado em 1818 por Caspar David Friedrich, um homem que viu morrer três irmãos -um deles ao arriscar a vida nas águas para salvar o mesmo Caspar- e viu morrer também a mãe, quando tinha sete anos.
Era um homem taciturno, solitário, introspectivo.

Pertenceu ao conclave do romantismo alemão. Contam que frequentava a casa de Schopenhauer e atraiu a atenção de Goethe que, um dia, numa discussão sobre arte, perdeu a calma e ameaçou com quebrar um de seus quadros contra a ponta de uma mesa.
Vários príncipes e reis da Europa compraram suas obras, mas Caspar não era nem um pouco monárquico. Não perdia oportunidade de escancarar símbolos liberais em suas pinturas; símbolos que, é claro, certa parte do público, na época, captava alegremente.
Devido a isso, quando os tempos políticos favoreceram aos reis novamente, com a derrota de Napoleão, a estrela de Caspar Friedrich se apagou. Perdeu o acesso a cargos oficiais, perdeu compradores de seus quadros. A penúria econômica e a física chegaram quase a um tempo.
Friedrich sofreu um ataque de apoplexia, tinha mais de 60 anos, vivia da ajuda de amigos e admiradores. Parcialmente recuperados os movimentos do corpo, passou os últimos cinco anos desenhando e pintando aquarelas como “Caixão em um túmulo fresco”.
Morreu em 1840.
Foi esquecido por completo nos anos que seguiram e revivido pelos surrealistas no início do século XX.

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