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Não é sobre a Revolução Francesa

Foto do escritor: Luca PiñeyroLuca Piñeyro

Passados 40 anos da Revolução Francesa, que eliminaria por sempre os privilégios da monarquia, França vive sob o reinado de terror de Carlos X, que reaviva os tempos da monarquia. Num dia de julho de 1830, o rei assina um decreto que indigna os cidadãos. O povo vai para a rua e a revolta termina com a toma do palácio e a capitulação do Carlos. Não chega a ser uma revolução porque quem assume e Luís Felipe, o rei burguês, primo do monarca deposto. Mas o novo mandatário, pelo menos, jura respeitar o Parlamento e a Constituição.

A intenção de Delacroix, pintor afamado de apenas 32 anos, é pintar uma ‘barricada’ que represente a luta desses dias de julho. Era normal que os pintores românticos pintassem rebeliões populares, mas elas sempre aconteciam em situações afastadas no tempo, por exemplo na Idade Média, ou no espaço, por exemplo, no Oriente. “A liberdade guiando ao povo” falava de uma rebelião acontecida poucos meses antes e nesse mesmo lugar: Paris. Funcionava quase como uma reportagem foográfica de hoje.

A liberdade guiando o povo (Wikipédia)


O quadro está construído como uma pirâmide, sua base está feita por dois cadáveres que vão de um lado ao outro e o vértice é o símbolo da liberdade. Entre os mortos e a mulher com a bandeira estão os combatentes: o burguês -um autorretrato do mesmo Delacroix-, o pobre maltrapilho, em representação do povão, e a criança, indicando que a luta se estenderá por gerações. A liberdade é bela, atrativa e francesa. O burguês Delacroix, portando a arma mais poderosa do quadro, está na vanguarda.

Eugene Delacroix estava longe de ser um revolucionário de ação. Era filho ilegítimo de um príncipe e fora criado por um burguês de alta gama. Mas o mito da Revolução Francesa, acontecida antes dele nascer, embriagava os jovens da sua geração, e as cores dessa revolução agitavam ainda seus corações. Por isso, em seu quadro sobre o levantamento popular de 1830 pintou a liberdade com os atributos da revolução de 1879: a bandeira tricolor e o gorro frígio.

O Massacre de Quios (Wikipédia)


O quadro, ainda que comemorou a revolta que levou Luis Felipe ao poder, incomodou o mesmo Luis Felipe. Uma coisa era pintar uma rebelião popular na Grécia onde os maus eram os turcos e outra, muito diferente, era pintar uma apologia da rebelião contra um monarca europeu que era nada menos que primo seu.

Passariam mais de 40 anos para que a obra fosse aceita pelo poder na França. Em 1874 passaria a ser um ícone da nação francesa.

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