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Dom Távora, o comunista.

Foto do escritor: Luca PiñeyroLuca Piñeyro

Dom Távora era um “padre vermelho”, achava que a Igreja devia empenhar-se mais na solução das questões sociais. Nos anos 50, o a industrialização do país produzia aumento da população urbana e dos bolsões de miséria.

No Rio, Dom Távora trabalhou junto com outro vermelho: dom Helder Câmara. Juntos conseguiram que a Igreja retirasse o apoio às elites agrárias do Nordeste, criaram sindicatos para os trabalhadores do campo e organismos de crédito barato para pequenos produtores. Eram perigosos. Dom Helder sofreria atentados e o assassinato de um colaborardor direto. Em 1958, a dupla é desarticulada. Um vem para Aracaju, o outro será bispo de Olinda e Recife. “Ele era a antena,eu o alto-falante”, dirá dom Helder sobre ambos.


Dom Távora chega em Sergipe conhecido como “padre dos pobres” e como “bispo dos operários”. Observa que em Sergipe “o assalariado rural e o trabalhador proletário urbano se encontram em condições de vida condenáveis pela reta razão e pelas leis de Deus”.

Mas não é homem de ficar nas palavras. É também um empreendedor colossal. No Rio, tinha coordenado programas que levariam luz elétrica e as primeiras casas pré-fabricadas a várias favelas. Sabe, como poucos, tecer articulações nos primeiros degraus do poder. Assim que chaga a Aracaju, aproveitando sua ‘amizade’ com o presidente Kubitschek, obtém uma licença para instalar uma rádio, a Cultura de Sergipe. A rádio se torna um poderoso canal de evangelização e formação política e, logicamente, uma inimiga perigosa para o poder. Por isso, será frequentemente invadida pelo exército, interrompida sua programação, detidos seus jornalistas. Através da Rádio Cultura, o inefável espírito demiúrgico de Dom Távora criará o primeiro programa educacional popular à distância.


No Encontro Nacional dos Bispos do Nordeste, apresentou um projeto digno de um governador, prevendo a eletrificação rural, cursos para dirigentes agrícolas e criação de um grupo de trabalho voltado à industrialização do estado.

Com seu poder de articulação entre dirigentes políticos e poderosos comprará terras para entregá-las a pequenos produtores e criará um sistema de assessoria técnica para assistir esses produtores. “Definimo-nos em favor de uma Reforma”, escreveu. “Mas, enquanto não chega a hora, queremos aplaudir e apoiar todos os projetos-piloto de revisão agrária", escreveu. Logo depois do golpe de 1964, seu 'projeto-piloto' seria extinto.

Dom Távora hoje é lembrado, principalmente, pela creche que ele mesmo fundou e que fica na Praça da Bandeira. Merece um pouco mais. Poucos fizeram tanto pelos sergipanos como o "bispo vermelho" em seus dez anos de mnistério.


Fonte: A guinada da Igreja progressista em Sergipe: o bispado de Dom José Vicente Távora (1958-1970), de 2011.

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