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Dom Luciano e o anticomunismo

Foto do escritor: EstoritelerEstoriteler

Atualizado: 3 de jul. de 2021

A luta contra o comunismo na América latina pode ser vista como uma peça de teatro que tem os Estados Unidos, como produtor, escritor, diretor e protagonista e as elites locais como ator coadjuvante. O 'monstro do comunismo' não é uma invenção americana. Os Estados Unidos, depois da II Guerra, só fariam reviver um novo fantasma, algo assim como uma segunda parte hollywoodense.

Aqui em Sergipe, por exemplo, já se lutava contra o comunismo desde os anos trinta. A revista A Cruzada, que respondia à Igreja Católica, publicava naqueles tempos “Os dez mandamentos comunistas”, onde figuravam mentir, furtar, desejar a mulher do próximo, matar e odiar a Deus.

A contra cara dessa organização de psicópatas, segundo historiadores objetivos como Hobsbawm, era que o comunismo oferecia uma explicação do mundo diferente, razoável, superadora para o trabalhador, que tinha se convertido no escravo da industrialização.. Essa era a verdadeira monstruosidade aos olhos empresários capitalistas, fazendeiros, pontífices e donos de jornais.


Para o golpe de 64, já em plena Guerra Fria, o monstro do comunismo era combatido através da Doutrina da Segurança Nacional. Vários países da América latina abriram Escolas Superiores de Guerra, onde seus chefes militares, que depois tomavam o poder, eram doutrinados pelos americanos. Mas doutrinários, na época, eram os comunistas; os americanos apenas mostravam o caminho do desenvolvimento econômico em liberdade.

Por sua parte, a relação da Igreja com os países comunistas não era de inimizade. Primeiro porque havia países comunistas com ampla percentagem de católicos. Segundo porque uma importante corrente dentro da Igreja não via tantas contradições entre a lição de Cristo e o comunismo. Afinal de contas, Cristo parecia menos com um empresário capitalista do que com um operário pobre. Até o papa, Paulo VI, nos anos 60, chegara a dizer que a discriminação econômica negava a igualdade predicada por Jesus.

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Mas a reação de dentro da Igreja também tinha sua bateria de argumentos. A União Soviética era o subdesenvolvimento; o anticomunismo implicava boas relações com os Estados Unidos e, quando não, a promessa de investimentos e desenvolvimento.

No Brasil, em particular, as vida política endureceria com o AI-5, a finais do 68. Seriam institucionais a censura e a tortura de presos políticos. Em Sergipe, A Cruzada acompanharia esse endurecimento, seja com o brado anticominsta, seja com o silêncio perante os atos anti critãos dos ditadores.

Em Sergipe, Dom Luciano seria um dos intelectuais mais destacados desse processo. O comunismo deve ser derrotado pela força -escreveria-, a paz predicada por Cristo não significa a capitulação dos ingênuos. No Vietnã -exemplificaria-, os americanos não estavam morrendo em vão, pois o comunismo era uma máquina monstruosa de implantação de uma ditadura implacável no mundo inteiro. Sobrava também para os sindicatos, falsos líderes que jogavam empregados contra patrões, pobres contra ricos, com a conhecida e hipócrita política da igualdade.

O padre Luciano, intelectual de sólida formação, aportava assim sua pá de areia a essa maravilhosa fábula mundial produzida pela inteligência americana para manter as coisas do mesmo jeito que sempre, ao gosto dos conservadores.

Hoje uma escola da rua Itabaiana leva seu nome.


Fonte: IGREJA, PODER E IMPRENSA: O IDEÁRIO ANTICOMUNISTA NO SEMANÁRIO SERGIPANO A CRUZADA (1937-1970), Amanda Marques dos Santos, 2019.


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